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"Quando minhas mãos palidas deixarem cair a última caneta em um quarto barato, eles vão me achar lá, e nunca saberão meu nome minha intenção nem o valor da minha fuga" (Charles bukowski)

quinta-feira, 8 de março de 2007

A vida de Francisco

.Acordei meio zonzo e com a cabeça pesada.Arrastei-me até a cozinha e fritei um contra filé,já passavam das 2 da tarde.Sentia-me cansado, embora minha cabeça estivesse pesada meu corpo estava leve.Não consegui pensar em nada, comi o filé em poucos minutos encostado na parede ao lado do fogão e depois sai para a varanda de cuecas fumar um cigarro, a tarde estava calma e ensolarada,dei pequenas baforadas e apaguei o cigarro sem termina-lo,tinha um compromisso as 4 e decidi ir a pé até lá.

.Coloquei uma calça Jeans amarrotada uma camisa branca e uns sapatos que há semanas não viam uma graxa.Parti.

.Atravessei a avenida e segui.O compromisso era uma entrevista de emprego numa livraria.Eu não estava animado, há meses não trabalhava e vivia a custa da mãe.Eu não gostava disso (Embora ela pagasse as contas, eu detestava ter que roubar dinheiro da sua bolsa para comprar cigarros).Andei calmamente observando a paisagem ao meu redor.Os carros passavam na rua com seus motoristas cansados, guiavam olhando para frente.Atravessei e segui na pista de Cooper Para observar as corredoras em suas calças de nylon apertadas.Elas passavam por min, ou acompanhadas dos namorados ou de velhas que deviam ser suas mães ou sogras.Eu tentava olhar nos olhos delas esperando que olhassem nos meus,nunca olhavam então Olhei em meu relógio:quase 3.ainda tinha tempo.Avistei um velho bar no outro lado da rua.Já havia bebido lá algumas vezes com amigos, lembro-me uma vez em que ficara lá até tarde da noite,havia bebido alem do que podia pagar, o Barman ameaçara chamar a policia,resolvi tudo com uma briga.Nunca apanhara tanto como naquele dia.Bom,pelo menos não chamaram a policia.e se descobrissem que na época que eu mal tinha 18 as coisas ficariam pior.Isso fora a uns anos.Agora era maior de idade, um homem feito (Ainda não tinha 20) entrei e me sentei num banco em frente ao balcão.O barman me olhou-me torto, acenei com a cabeça e ele veio até onde eu estava.

-Dessa vez tem dinheiro?

-Porra! Que memória..

-Somente vendo a bebida, não a consumo.Essa merda acaba com a memória.

-Eu ainda lembro de tudo que já vivi.As vezes esqueço meu nome,mas isso é outra estória.Dei uma risada mas a brincadeira não pareceu afeta-lo.

-Tem dinheiro ou não?

.Procurei minha carteira no bolso da calça.Estava vazio.Havia esquecido o principal.Pelo menos não havia pegado o ônibus. Já me cansei de ter que descer sem pagar.Já começara a acreditar que a bebida afetava a memória.

- E então? Perguntou o barman.

.Já ia me levantar e descontar a surra da ultima vez.Esquecer a carteira me deixava nervoso.

-Sente-se meu filho.Disse um velho com longa barba branca e chapéu caubói.Parecia Walt Whitman. – Deixe o que ele beber por minha conta.

.Ouvi aquilo sem acreditar.Aquilo acontecia somente em filmes de faroeste ou livros.

-Obrigado. eu disse .-Mas já estava de saída..

-Quando alguém lhe oferecer uma bebida..Aceite!

-Tudo bem..

-O que vai ser? Perguntou o barman.

- Vodka pura, por favor.

.Ele virou uma dose no copo e o bateu com força no balcão, podia ver a raiva em seus olhos.

- Uma bebida forte dessas, essa hora da tarde? Perguntou o velho. – É jovem para isso garoto.

- Nunca se é jovem demais para uma vodka.Velho. Respondi.

- Quando tiver minha idade e sentir seu fígado se retorcer, vai ver que era jovem demais.

- Não quero chegar a sua idade.

.Virei a vodka, e olhei o fundo do copo vazio.- Obrigado pela bebida,tenho que ir.

.Levantei-me acenei para o Barman que respondeu com um silencioso palavrão e sai.Segui a pista de Cooper,Minha cabeça não estava mais pesada,começava a me sentir diferente.Ótimo,mas as moças em suas calças de nylon apertadas havia sumido .a pista estava vazia.Cutuquei os bolsos de minha calça e encontrei o maço de cigarros quase vazio.Parabéns rapaz! Esquece a carteira mas nunca os cigarros!Procurei o Isqueiro e não achei.De repente uma mão enrugada passa pelo meu ombro e com um isqueiro de platina, acende o cigarro em minha boca,Era o velho.

- O que quer velho?

- Conversar.

.Pensei em manda-lo ir a merda.Mas não fazia meu estilo.Sempre fui gentil com as pessoas, e ele ainda havia pagado-me uma bebida.

- Ta certo.Qual seu nome ?

- Francisco.

- Para onde vai Francisco ?

- Encontrar meu grande amor.

- Porra.Onde ela ta?

- Eu não sei. Não a vejo a 10 anos.

- Merda.Como vai encontra-la?

- Sei que ela está aqui na capital, a única pista que tenho é que ela possui um grande jardim de rosas.

- Um jardim ? “Pobre velho” pensei.

- Onde você nasceu Francisco?

- Eu..eu não me lembro..

- Como não se lembra?

- Ultimamente tenho me lembrado de coisas recentes.Às vezes o contrario. Lembro-me de coisas do passado e me esqueço das recentes.é sempre assim.

- Desde quando? Era o tipo de conversa que eu gostava. Eu perguntava e ele respondia.Não tenho paciência para conversas sem ordem.A pista estava vazia, parecia que o destino ou quem quer que esteja no comando dessa merda existencial, Reservara essa conversa.

- Desde o Coronel.

- Coronel?

- È. Meu antigo cavalo.Eu tinha uma fazenda no interior, criávamos gados.Eu e meu pai.Eu saia todas as tarde para passear com o coronel.Era certo que ele não passava de um pangaré e também não corria muito, mas éramos amigos de longas jornadas.Eu me sentia bem, e logo tudo terminou.

- Terminou como?

- Fui mandado para a capital para estudar.Formei-me em direito.No começo meu pai me escrevia. Mas depois as cartas pararam de vir, o dinheiro também.Fui obrigado a arranjar um emprego numa fabrica de sapatos, por fim me formei e me apaixonei por uma linda garota rica,então ela me ajudou e montei um escritório de advocacia,durante quatro anos fui bem sucedido.Mas logo tudo acabou. Ela traiu-me com o garoto da correspondência, nos separamos. Ela tirou-me tudo, o escritório..Tudo.

- Lamento.Eu disse.Então percebi algo.Ele se lembrava de onde crescera.Então sem ao menos perceber dissera onde nascera.Era triste. Ele havia ficado louco.

- Não lamente ainda.Não terminei.Bom..Onde estava? Assim! Depois de perder tudo, voltei para a fazenda.Encontrei tudo arrasado. Não haviam gado, cercas quebradas,e a casa caindo aos pedaços. Estava abandonada.Fui até a fazenda vizinha, e perguntei a Dona clara (proprietária) o que acontecera.Descobri que meu pai se viciara em jogos e perdera tudo, a fazenda os gados. Tudo.então suicidou-se.O novo dono nunca aparecera para ver a fazenda.Perguntei sobre o coronel,meu cavalo. Ela disse que meu pai havia dado a ela para ser cuidado até que eu chegasse.Peguei meu cavalo e partir.Resolvi voltar á capital montado co coronel.Peguei a estrada , e uma caminhão que carregava fertilizantes capotou na estrada a uns 15 metros de onde estávamos, coronel se assustou e jogou-me no chão.bati a cabeça numa pedra e desmaiei.Acordei no hospital local em quarentena numa área, perguntei a enfermeira que aparecia com uma mascara que tampava seu nariz e boca,por que eu estava ali isolado. Ela disse que o cheiro de esterco incomodará todos do hospital por isso eu teria que ficar no porão.Quando sai fiquei meses fedendo a esterco.

- Fui para a capital e voltei a trabalhar na fabrica de sapatos.logo fui promovido a gerente de vendas.Casei-me outra vez , mas ela pulou pela janela. E morreu quando caiu dentro de um caminhão de esterco que passava pela rua.(Por coincidência o motorista era o mesmo) então sobraram somente eu ,minha filha e meu filho Jorge que se tornou presidente de uma companhia de fertilizantes( merda ) e minha filha se casou.logo minha memória começou a falhar (acho que devido ao tombo)e fui internado em um asilo.Fugi semana passada e estou aqui.

- Puxa..como pensa em procurar?

- Não sei.vou procurar por uma casa que tenha um grande jardim.

.Então naquele momento tive uma idéia.- Francisco.Qual o nome de sua filha?

-Rosa de .....

. Eu e Francisco fomos até o barzinho mais próximo,e pedi uma lista telefônica( depois de uns 4 drinques,pagos por Francisco)encontrei o nome de rosa , liguei e passei o telefone a Francisco.Depois de toda choradeira,fomos até o endereço.toquei o interfone e uma linda voz atendeu.Ela veio até a porta,era linda com seios fartos, uma saia mediana e lindas pernas, era ruiva.

.Francisco e ela se abraçaram e entramos.Depois de umas 2 horas de conversa e eu com o estomago doendo depois de tanto chá de camomila,as atenções foram viradas para min.

- Obrigada por encontrar meu pai.Quando descobri que ele havia fugido fiquei desesperada.

- Eu não o encontrei, ele veio até min.

- Mesmo assim,obrigada.

.Logo Francisco adormeceu.Fiquei conversando com Rosa na varanda.Havia separado de seu marido, e não tinha filhos.Parara de visitar o pai no asilo devido a problemas com o irmão que virara um alcoólatra.Então ela passara a dirigir a companhia de fertilizantes.A casa era grande e bonita,o que indicava que a companhia vinha tendo lucros.Me animei com a idéia de uma mulher rica que não tinha filhos e ainda solteira.Logo nos beijamos.Fomos ao banheiro e trepamos embaixo do chuveiro.seus seios eram fartos e ela era insaciável,trepamos a tarde toda, enquanto Francisco dormia.

.Fui embora lá pelas 9 da noite,Havia perdido a entrevista de emprego, mas conseguido algo melhor,acendi um cigarro e voltei andando para casa.Dias depois Francisco voltara para o asilo, eu e rosa íamos visitá-lo todas as quartas,Alguns meses depois tive a horrível noticia de que Francisco fora atropelado por um caminhão de fertilizante.havia sobrevivido ,quebrara somente algumas costelas e uma perna.Nunca havia consolado tanto Rosa como naqueles dias.O chuveiro era responsável por mais da metade da conta de luz de sua casa.Francisco se recuperou e ultimamente tem se lembrado de tudo. Parece que o atropelamento fora o responsável.As vezes os atropelos da vida nos ajuda.No caso do Francisco uma merda de atropelo.

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