.Tem dias que acordamos com nossa criança interior aflorada.A minha naquela manha estava como sempre esteve: dormindo num canto, ou pensando na professorinha gostosa.
.Eu estava animado,havia tido uma boa noite de sono.então levante-me e depois de um bom banho, me vesti e resolvi dar uma volta e aproveitar o tédio de domingo.Quando virei a rua quase me esbarrei num cara cujo hálito se igualava ao cheiro de uma privada cheia de merda.Ele se virou e eu continuei a andar.
- Hei ! Espera um minutinho! (Cuidado quando alguém grita isso! Esses minutinhos podem virar horas)
- Ah? Conheço você ? Perguntei me virando.
- Claro! Sou eu! O Otavio!
.Ainda tava na mesma, não me lembrava de nenhum Otavio.Ele se aproximou com um sorrisinho maldito e amarelo.
-Porra cara! Quanto tempo!E esse cabelo grande?
-Olha cara, Desculpa mas não me lembro de você.
-Sou eu cara,o Otavio!Fomos da mesma sala na quarta serie!
.De repente me veio a mente quem ele era.Lembrei-me dos vários recreios em que ele me batia e roubava meu lanche. E de quando ele abaixou minha bermuda na frente de todo colégio,lembrei-me das risadas de todos enquanto apontavam;Lembro-me da vontade de fuzilar a todos e de mata-lo com as próprias mãos.Mas era passado, havíamos crescido..Mas ao reconhece-lo percebi que ainda queria mata-lo.
- O que conta de novo? Perguntou-me lançando em meu rosto aquele bafo horrível.
- Nada demais..
- Fiquei sabendo que anda fazendo curta metragens..
- Não. Só escrevo os roteiros.
- Ah sim !
- Olha,eu tenho que ir..
- Estou trabalhando como mecânico! Gritou interrompendo-me.
- È mesmo?
- É cara.adoro o que faço,ontem mesmo...(E começou a ladainha). Falou, falou e falou sem parar, mal respirava.Fazia gestos com as mãos e seu bafo horrendo vinha até mim.Acendi um cigarro e deixei que ele falasse.Como o filho da puta falava!falou sobre a irmã que havia engravidado,sobre as putas que comia e sobre o que acontecia na oficina em que trabalhava.Eu tentava ser paciente o Maximo que podia mas aquela merda estava acabando comigo.não queria ser grosso,não era meu estilo,Depois de três cigarros resolvi usar a velha desculpa salvadora:
- Olha, estou atrasado para o trabalho.Depois agente se fala.inté.
- Até cara.foi bom vê-lo após tanto tempo.(não digo o mesmo) pensei.
.Virei-me e quando andava tive uma ótima idéia.Uma voz dentro de min dizia “não faça isso é passado,você não é mais criança” mas outra gritava “Lembre-se do que Saint exupéry dizia: Devemos ver tudo com olhos de criança!”Como eu era um leitor exempla do Saint não podia decepciona-lo.Voltei até ele silenciosamente e por traz abaixei suas calças.Ele se assustou e agachou –se para puxa-la.Mirei e chutei em cheio sua bunda branca, o coitado caio em cheio com o queixo no chão. Quando vi sua bunda para cima uma vontade descontrolada de gargalhar tomou conta de mim ,corri até o final da rua gargalhando, me encostei num poste temei fôlego e gritei:
- Esse seu hálito é uma desgraça!filho da puta!
.Pude ver de longe , seu queixo sangrando enquanto ele levantava sua calça.Sua boca se mexia, com certeza soltava alguns palavrões.Resolvi correr o Máximo que pude, e quanto vi que havia sumido de vista descansei em uma mesa do bar mais próximo que encontrei.Sentia-me feliz e também com uma satisfação insana.As vezes o passado vem de encontro a nos,o que nos resta a fazer a não ser revive-lo ? Foi o que fiz, mas dessa vez o papel de humilhado se inverteu. E a criança magricela que havia em mim agradeceu.
Um comentário:
realmente estes textos expõem com clareza, alguns sentimentos internos nos seus leitores.
Mats tem sido muito feliz nas suas palavras, suas colocações são precisas, nos levando a um universo oculto do nosso intimo.
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